Tradução para o português da história de Kyo Kusanagi no KOF XII que estava disponível apenas em japonês. Agradecimentos especiais a @miauneko pela tradução para o espanhol e a Luana Tsuki pela revisão do texto.
Versión en español: https://www.facebook.com/kofarchive/posts/5377216168990026
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Sentia a agradável brisa noturna contra sua pele.
As pétalas que continuavam caindo silenciosamente acumulavam-se com rapidez sobre seu punho fortemente fechado.
Se tivesse continuado em pé e imóvel ali, a cor rosa provavelmente teria-o coberto completamente em apenas um instante.
Kyo Kusanagi tirou as luvas e agora observava as pétalas reunidas em sua mão fechada. Em um piscar de olhos, sacudiu seu braço direito.
As pétalas arderam em uma chama escarlate e rodopiaram, formando um pequeno redemoinho.
Foi o autor Motojirō Kajii quem escreveu sobre os cadáveres enterrados sob as cerejeiras. Kyo gostava de ler suas obras, e não tinha dúvidas que essas estranhas ideias certamente foram inspiradas por essas cerejeiras que floresciam à noite e fora de época.
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Durante todo esse tempo, as batalhas nas quais Kyo se envolveu sempre carregaram certa sensação de obrigação. A luta contra Orochi por causa dos Tesouros Sagrados era uma. Em seguida, a luta contra NESTS, que o haviam usado como cobaia. E agora, sua luta continuava e impunha um peso invisível sobre seus ombros.
Quando foi a última vez que lutou livre de tudo, sem ter outra coisa em mente?
Ao relembrar o torneio onde conhecera Benimaru e Daimon, percebeu que aquele evento fora relativamente pequeno, a nível nacional. Era impossível compará-lo com a envergadura internacional do KOF. Mas então, por que sentia tanta nostalgia quando se lembrava desse dia?
◆◇◆◇
Kyo estava recostado contra o tronco de uma árvore sem fazer nada, quando de repente seu celular tocou.
— Kyo?
— Sim — sorrindo debochado ante a chamada tão oportuna, Kyo suspirou profundamente. A fragrância da cerejeira permeava todo seu corpo.
— Ei, onde você está? Perguntei à sua mãe e ela disse que você estava em um retiro nas montanhas.
— Então ela te enganou. Ir a um retiro nas montanhas e escolher um lugar onde o sinal do celular ainda funciona seria muita falta de força de vontade, né?
— É verdade. Mas então, onde você está?
— No parque do bairro, observando as cerejeiras.
— Mas a essa altura as pétalas já devem ter caído.
— Ainda estão em flor em certo lugar que só eu conheço. Quer vir?
— Não, deixa pra lá. Se o assunto são flores bonitas, prefiro as que podem falar.
— Que seja. Por que ligou?
— Nenhum motivo em particular. Só me deu vontade.
— Entendo.
Era pouco provável que Benimaru Nikaido tivesse ligado sem um objetivo concreto. Kyo não precisava que lhe dissessem que Benimaru estava preocupado com ele.
Esfregando o nariz, Kyo murmurou:
— Você é muito pessimista.
— Hã?
— Nada.
Kyo encerrou a chamada e se levantou. Com o som de um leve toque, as pétalas que haviam se acumulado sobre ele caíram rodopiando.
◆◇◆◇
Tudo aconteceu antes que Kyo pudesse se dar conta: fizeram-no treinar o Estilo Kusanagi, obrigando-o a começar a carregar o peso do destino dos Três Tesouros Sagrados sem que seus próprios desejos tivessem importância.
Quando completou quinze anos, superou o sucessor anterior, seu pai, Saisyu Kusanagi.
Desde esse dia, Kyo assumiu oficialmente seu lugar como herdeiro do Estilo Kusanagi, mas atualmente, o jovem sentia que seu pai talvez o tivesse deixado ganhar de propósito para poder se livrar das formalidades do título de sucessor.
Isso não foi algo que Kyo levou em consideração naquela época, mas o estilo de vida despreocupado de seu pai deixava claro que ele não podia descartar essa possibilidade.
Na verdade, seu pai partira em uma viagem ao exterior para melhorar suas habilidades de luta, logo depois de dizer que deixava o Estilo Kusanagi em suas mãos.
“Graças a esse velho irresponsável, fui envolvido nesse incômodo que são Orochi e os Tesouros Sagrados sem que eu pudesse fazer nada a respeito.”
Kyo dizia isso, mas seu rosto não demonstrava amargura, pois, apesar de realmente se incomodar por ter que lidar com assuntos irritantes, ele não era nenhum covarde que tentaria deliberadamente escapar de uma luta.
Ele não queria ser acorrentado pelo destino, mas também se irritava com o fato de as pessoas poderem dizer que ele tinha fugido por essa razão.
Sem se preocupar muito com sua posição ou orgulho como herdeiro, Kyo lutou usando as chamas dos Kusanagi contra Orochi e NESTS.
E assim continuaria lutando contra o que viesse no futuro.
Mesmo parecendo um pouco infantil, essa era a vontade de Kyo.
E isso lhe parecia bom.
◆◇◆◇◆
Kyo desceu a colina que oferecia uma vista panorâmica da cidade, pisando firmemente sobre as pétalas acumuladas. Pouco a pouco, os sons noturnos que eram ouvidos com maior clareza fizeram-no voltar ao presente.
Ao levantar os olhos, viu que a lua crescente brilhava no céu urbano salpicado com poucas estrelas.
— …
Enquanto observava a afiada lua crescente de pé no meio da ponte para pedestres, ouviu o som rítmico de passos e uma voz animada.
— Hã? É você, Kusanagi-san?
— Oi — ao desviar os olhos do céu, Kyo viu Shingo Yabuki na sua frente, ligeiramente sem fôlego e vestindo uma jaqueta esportiva — O que você está fazendo exatamente?
— Então… não é óbvio?
— Está passeando…?
— Estou correndo para me exercitar! Deveria ser evidente por causa da minha roupa!
— Ah, é?
— Como assim, “ah, é”? — disse Shingo, deixando seus ombros caírem ante a reação de Kyo, que claramente não parecia nada interessado.
— Por que está correndo?
— Que pergunta, porque é algo que devo fazer — de repente, Shingo fechou suas mãos com força e logo lançou golpes repetidos intercalando os punhos direito e esquerdo no espaço vazio diante de si — Faço isso pelo amanhã! Huff, huff! Queime! E tudo isso.
— Não diga esse tipo de coisa. Definitivamente não há nada de impressionante — Kyo colocou as mãos nos bolsos e sorriu desdenhoso olhando o shadow boxing de Shingo, cujo nível de habilidade era inferior à sua determinação — Enfim, continue se esforçando e levando isso a sério e talvez algum dia consiga produzir umas faíscas.
— Quê?! Acha que vai acontecer?
— Eu disse “talvez”, mas pode não acontecer.
— Decida-se~
— Não acho que vai acontecer.
— Que cruel, Kusanagi-san! Por acaso não é meu mestre?!
— Você se autoproclamou meu discípulo por conta própria. Enfim, até logo.
— Espere, por favor! O destino quis que nos encontrássemos! Aproveite para me ensinar uma técnica nova!
— Só estou dando uma volta. Não acho que o destino tenha algo a ver com isso.
— Não diga isso…
— Já chega!
— Ai!
Kyo deu um chute na direção de seu aluno persistente e desceu as escadas da ponte com passos ligeiros, sem tirar as mãos dos bolsos.
◆◇◆◇◆
A lua seguia Kyo.
Sua luz, pálida porém visível, delineava a silhueta de Kyo em uma longa e estreita sombra sobre o asfalto da rua que acompanhava o rio.
Kyo ia para casa, assobiando com os ombros um pouco caídos.
Ele tinha amigos: Benimaru, Daimon e Shingo.
Conhecia bem seus temperamentos e capacidades e sabia que eram companheiros de equipe com quem podia contar.
Mas, apesar disso, estava sempre sozinho quando ia lutar.
Além disso, tinha um vínculo predestinado que não poderia encarregar a terceiros.
Um oponente a quem ninguém além dele devia enfrentar.
— …
Levantando os olhos para a lua sobre seu ombro, Kyo sorriu sarcástico enquanto coçava a cabeça.
Lembrava-se toda vez que olhava para a lua.
— Talvez a única parte boa é que me ajuda a quebrar o tédio — disse Kyo para si. Suas mãos agora estavam fora dos bolsos e ele as fechou, lançando um golpe na escuridão à sua frente. Shingo fizera um movimento que à primeira vista era parecido, mas na verdade não tinha como serem comparados — Falar sobre esse assunto é desnecessário. Uma vez que esteja no ringue, você simplesmente faz o que tem que fazer.
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