sábado, 10 de julho de 2021

[AS FUNÇÕES DE EXÚ]

 [AS FUNÇÕES DE EXÚ]

De acordo com Pierre Verger, Exú é um Orixá difícil de ser definido por suas características bastante controversas (Verger, 2002, p. 76). De acordo com a tradição Iorubá, Exú possui uma personalidade inquieta, é astuto, muitas vezes grosseiro e indecente, vaidoso e irascível. Faz a intermediação entre o Orún e o Aiyê, desempenhando a função de mensageiro entre os homens e os deuses, guardião de templos e de casas, das cidades e das pessoas. Criado por Olorun é o símbolo do elemento procriador.
Usando as palavras de J. Elbein dos Santos: O ar e as águas moveram-se conjuntamente e uma parte deles mesmos transformou-se em lama. Dessa lama originou-se uma bolha ou montículo, primeira matéria dotada de forma, um rochedo avermelhado e lamacento. Olorun admirou esta forma e soprou sobre o montículo, insuflando-lhe seu hálito e dando-lhe vida... era Exú... o primeiro nascido da existência e, como tal, o símbolo por excelência de elemento procriador. (Dos Santos, 1986, p. 59) Ainda segundo J.Elbein dos Santos, Exú é o primogênito do universo. (Dos Santos, 1986, p. 59) Além de relacionar-se intimamente com todos os Orixás masculinos e femininos, ele mesmo é um elemento constitutivo de todas as realidades, responsável pelo processo de existência individualizada.
Orixá e Exú formam uma unidade indissociável, podendo-se dizer que Exú é o executor das funções e determinações dos Orixás.
Por ser o elemento procriador e dinamizador de toda a existência, na ritualística do Candomblé, ele é o primeiro a ser reverenciado e servido. O poder de Exú se estende sobre tudo aquilo que existe, resolvendo situações conflitantes com sua astúcia e inteligência, promovendo o crescimento e o desenvolvimento com seu poder dinamizador, abrindo os caminhos e trazendo prosperidade. Exú é o transportador do Axé e a esta função se deve o fato de ser ele uma figura central no Candomblé. Todas as atividades religiosas no Candomblé têm no fundo sempre o mesmo objetivo de proporcionar a troca de Axé e com isso possibilitar uma maior harmonia. E esta troca só acontece por causa de Exú, que é o mensageiro, o mediador entre ambos os lados.
(Berkenbrock, 2007, p. 182) Por sua qualidade de elemento de ligação entre o Orún e o Aiyê, ele também é chamado de senhor dos caminhos. Ele pode abri-los ou fecha-los segundo o contexto ou as circunstâncias.
“É um princípio e, como o asè (Ashé) que ele representa e transporta, participa forçosamente de tudo o que existe, sem ele todos os elementos do sistema e seu devir ficariam imobilizados, a vida não se desenvolveria.”
Ele é o controlador dos òna burúkú, os caminhos que são condutores dos elementos malignos, e dos òna rere, condutores das boas coisas, tanto no òrun como no Aiyê. (Dos Santos, 1986, p. 169) ” (Dos Santos, 1986, p. 131).
Como agente propulsor de todo este sistema, Exú representa a própria Criação em seus princípios; partindo da proto-matéria que é dinamizada, passa por um processo de individualização e se abre a novas possibilidades num eterno vir-a-ser. Assim, renovando-se, recriando-se, reinterpretando-se a tradição do Candomblé revive o momento primeiro da criação, propiciando que a humanidade, representada na comunidade templária, também se renove e se atualize, encontrando em seus fundamentos, o sagrado imanente em todo o cosmos.